“Algumas cenas são constantes na minha cabeça, e ainda me torturam até hoje”. A declaração é do jornalista Romano, quase cinco meses após ser sequestrado e torturado por criminosos. A força-tarefa responsável pela investigação foi prorrogada, mais uma vez, para tentar concluir o inquérito nos próximos 30 dias.
O apresentador foi sequestrado no dia 26 de outubro de 2020, quando jantava em casa com a esposa Nattacha Vasconcelos e teve o imóvel invadido por três homens encapuzados e armados.
Ele foi levado no próprio carro pelos sequestradores e abandonado na BR-174, região do Bom Intento, zona Rural de Boa Vista. O carro foi incendiado e Romano teve o braço quebrado, luxação em um dos ombros, diversos hematomas pelo corpo resultados das agressões físicas, e foi deixado amarrado.
No dia 29 de outubro, em depoimento à Polícia Civil, declarou que nas ameaças os criminosos citaram o governador Antonio Denarium (sem partido), e o senador Mecias de Jesus (Republicanos).
O Roraima em Tempo conversou com o jornalista nesta terça-feira (16) para saber o que como está o tratamento fisioterápico, o que espera do resultado das investigações e quais são as principais sequelas deixadas pelo crime.
Você acredita na Justiça e no trabalho da Polícia Civil que comanda as investigações?
Acredito no trabalho da equipe da polícia que está investigando e no trabalho do Ministério Público (MPRR) e da Justiça. Mas, sabemos que esta investigação sofre uma pressão muito grande, com forças externas, políticas e do Governo do Estado para atrapalhar e impedir que não sejam tão conclusiva como deve ser. Mesmo assim, acredito no trabalho dos policiais, dos delegados e das pessoas envolvidas diretamente nas investigações”, relatou.
Romano, as prorrogações para concluir o inquérito seriam uma tentativa de interferência. Qual sua avaliação sobre esses pedidos de dilação dos prazos?
Não tenho contato com as pessoas que estão investigando, quero deixar isso claro. As informações que tenho são as que vazam, que os jornalistas recebem… Contudo, as informações que chegam até mim, com certeza, são [resultado de interferências]. A força-tarefa precisou prorrogar o inquérito porque ela foi atrapalhada de várias formas.
Logo após o crime você passou por cirurgias e precisou de fisioterapia. Como estão essas sequelas físicas?
Ainda faço exercícios da fisioterapia para recuperar a movimentação dos braços, pois eles não esticam. O ombro que estava quebrado está quase recuperado. Não tenho força nos braços, por isso, ainda preciso dessas atividades. Os profissionais que me acompanham não garantem que ficarei 100% recuperado. Estou próximo do que eles consideram satisfatório e não há previsão para melhoras, porque depende do corpo, e isso é normal.
Romano, fala-se em sequelas físicas provocadas pelas agressões dos criminosos. Mas e o medo de sair de casa, de encontrar pessoas, a ansiedade… Como estão essas sequelas emocionais?
Elas são constantes. Tenho insônia, medo, vivo trancado, praticamente não saio de casa. Inclusive, essa questão da demora na solução, de mostrar quem são as pessoas, me gera mais medo ainda, porque não sei quem são. Não sei se moram na rua da minha casa, se entram em contato comigo, se passam na rua da minha casa, não sei o que estão tramando ou pensando, e ninguém sabe. A partir do momento em que nos disserem quem são, o que acontecer comigo, provavelmente, será culpa deles, caso contrário, não saberemos. Os órgãos que estão investigando saberão, mas não intimida tanto quanto se a sociedade souber.
Você precisou de acompanhamento psicológico?
Faço acompanhamento psicológico até hoje e me ajudou. Entretanto, da mesma forma que as sequelas físicas, a sequelas mentais precisam de tempo, e até mais tempo. As pessoas que me acompanham dizem que fisicamente estou bem, mas mentalmente ainda não. Algumas cenas ainda são constantes na minha cabeça, ainda me torturam. Tive a tortura do dia, mas a psicológica continua até hoje.
Romano, o crime como um todo deixa marcas para o resto da vida. Existe algum momento daquela noite que mais te afeta?
O momento mais terrível foi quando os suspeitos encapuzados estavam entrando na minha casa, apontando revólver na minha cabeça, me xingando. E quando me deixaram na zona rural, pois pensei que iam me matar. Esses são os dois momentos.
Você teme pela sua família?
Não sabemos quem são essas pessoas, por isso tenho medo que façam algo contra mim e contra minha família, contra colegas de trabalho. Sempre digo que o recado foi para todos os profissionais da imprensa. Eles pensam dessa forma: o jornalista que está denunciando é este, que a população confia, é esse que vamos pegar. Pode acontecer com qualquer um.
O que espera que aconteça daqui para frente?
Espero que o inquérito seja concluído, que as pessoas paguem pelo crime, que eu consiga voltar um pouco para minha vida normal. Que tenha segurança. Não só para mim, mas para todos os colegas de trabalho.