Sete embarcações com garimpeiros armados atacaram indígenas da comunidade Palimiú, às margens do rio Uraricoera, município de Alto Alegre, por volta das 11h desta segunda-feira (10). A Fundação Nacional do índio (Funai) informou que cinco pessoas ficaram feridas, sendo um indígena e quatro garimpeiros.
A Hutukara Associação Yanomami (HAY) detalhou que os indígenas, também sob posse de armas de fogo, revidaram o ataque, o que resultou em um tiroteio que durou meia hora. Os garimpeiros se retiram, mas prometeram “vingança”, conforme a associação.
“Solicitamos aos órgãos que atuem com urgência para impedir a continuidade da espiral de violência no local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiú”, menciona a Hutukara em documento que o Roraima em Tempo teve acesso, enviado ao Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF), Exército e a Funai.
A Funai declarou que só pode ir ao local coletar informações com escolta da Segurança Pública, uma vez que o tiroteio aumentou a periculosidade da região para órgãos fiscalizadores.
O Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) comunicou ao órgão que a equipe de saúde no local foi retirada para preservar a integridade dos funcionários. Procurado, o coordenador do Dsei-Y, Rômulo Pinheiro, disse que o órgão não vai comentar o assunto.
Conflitos entre indígenas de Palimiú e garimpeiros duram ao menos duas décadas. Em 2017, o Roraima em Tempo noticiou que membros da comunidade se sentem revoltados com a presença dos invasores devido ao mercúrio liberado no rio Uraricoera. Na época, 22 crianças indígenas morreram intoxicadas em um mês.
VINGANÇA
A Hutukara disse que houve ameaça dos garimpeiros de voltar até à comunidade com mais homens armados às 12h30. Até o momento, não há informações de novos ataques, mas a entidade comunicou que vários dos indígenas se esconderam na mata e se preparam para novo conflito, que pode acontecer a qualquer momento.
A reportagem teve acesso a depoimentos de pessoas que vivem na região do rio Uraricoera, controlada pelos garimpeiros. Uma delas cita que os ânimos estão exaltados entre aqueles que possuem desavenças com a comunidade.
“Mais de 20 homens armados foram até os ‘americanos’ [nome dado aos indígenas da região]. Tem mais gente por perto do flutuante querendo descer até lá [[para] matar. Se 10 ou 15 índios forem mortos, o bicho vai pegar para nós. Eles estão pertinho, onde era o barraco da Roseli”, menciona.
Outra comunidade em Alto Alegre que vive em clima de tensão com os garimpeiros é a Helepi. Em março, um garimpeiro morreu e um indígena ficou gravemente ferido após um conflito. A morte dele resultou na indignação de companheiros que estavam no local e juraram um “acerto de contas”.