Região é alvo de conflitos desde o dia 10 de maio – Divulgação/Hutukara Associação Yanomami

Garimpeiros atiraram contra indígenas que voltavam de uma caçada na comunidade Walomapi, na Terra Yanomami, em Roraima. Esse é o segundo ataque em apenas três dias. Não há relato de feridos.

O caso ocorreu ontem (8) e foi relatado pelo Conselho de Saúde Indígena Yanomami nesta quarta-feira (9) à Fundação Nacional do Índio (Funai), Polícia Federal (PF), Exército Brasileiro e Ministério Público Federal (MPF).

Segundo escreve o presidente do conselho, Júnior Hekurari, as lideranças informaram que indígenas retornavam de uma caçada quando foram alvo de tiros. Para ele, o episódio foi uma emboscada.

“Indígenas haviam retornado de uma caçada e foram alvejados por garimpeiros armados que estava na beira do rio, o que demonstra ter sido uma emboscada, e dispararam tiros em direção dos indígenas que fugiram e mergulharam no rio”, cita o ofício.

Após o ataque, os indígenas foram ameaçados pelos invasores, que prometeram retornar armados à comunidade ainda hoje. Júnior Hekurari solicitou que sejam tomadas medidas urgentes para conter a “situação caótica” que já dura um mês.

“Chegamos ao 30º dia e precisamos que os órgãos responsáveis atuem com urgência conforme dever legal. Reafirmamos a necessidade dos magistrados de fazer valer a Constituição Brasileira sobre os direitos dos povos indígenas, o direito de recorrer à Justiça em favor de direitos humanos”, cobra o conselho.

ATAQUES

Desde o dia 10 de maio a Terra Yanomami vive dias tensos devido aos conflitos de garimpeiros e indígenas. Nessa terça-feira (8), a reportagem mostrou que os invasores atiraram bombas de gás lacrimogênio, causando ardência nos olhos de homens, mulheres, crianças e idosos.

No dia 31 de maio, criminosos atacaram a Estação Ecológica de Maracá e roubaram materiais utilizados na exploração ilegal, que tinham sido apreendidos em uma fiscalização. As entidades repudiaram o caso e cobraram ações de segurança.

Segundo a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), 13 ofícios foram enviados no último ano sobre a expansão do garimpo ilegal na região. A presença dos garimpeiros ameaça a segurança dos Yanomami e propaga casos de coronavírus.

SUPREMO

Os conflitos foram informados ao Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou no último mês o envio de tropas para a reserva. Contudo, os agentes ficaram até dia 4 de junho. Um dia depois as organizações indígenas voltaram a relatar ataques.

No próximo dia 11 de junho, os ministros se reúnem para discutir a questão das Terras Yanomami e Munduruku. A discussão pode resultar em uma reposta mais firme do Judiciário contra o Governo Federal.

Quando deferiu o pedido para enviar os agentes federais, o ministro Luís Roberto Barroso criticou a União pela falta de transparência em relação às medidas tomadas para evitar o massacre dos povos indígenas.

“Além disso, o risco à vida, à saúde e à segurança de tais povos se agrava ante a recalcitrância e a falta de transparência que tem marcado a ação da União neste feito, o que obviamente não diz respeito a todas as autoridades que oficiam no processo, muitas das quais têm empenhado seus melhores esforços, mas diz respeito a algumas delas, suficientes para comprometer o atendimento a tais povos. Não há dúvida, ademais, do evidente perigo na demora, dado que todo tempo transcorrido pode ser fatal e implicar conflitos, mortes ou contágio”, escreveu.

Em março de 2021, análises de imagens de satélite divulgadas pela Hutukara Associação Yanomami indicaram um total de 2.430 hectares destruídos pelo garimpo na Terra Yanomami, o que equivale a 24,3 milhões de metros quadrados.

A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos já repudiaram os ataques e cobraram resposta urgente do governo do presidente Jair Bolsonado (sem partido).

CITADOS

Roraima em Tempo entrou em contato com a Polícia Federal, Ministério Público Federal, e Fundação Nacional do Índio, e aguarda retorno.