O roraimense Trevor Rodrigues, de 40 anos, natural de Bonfim, foi o primeiro brasileiro extraditado aos Estados Unidos pelo crime de tráfico de drogas. Preso na Colômbia, em fevereiro de 2019, o homem era investigado pela Agência Norte-Americana Antidrogas (DEA), suspeito de integrar uma quadrilha especializada em tráfico de cocaína entre Colômbia e os Estados Unidos.

O narcotraficante foi detido em Barranquila, numa operação da Direção de Investigação Criminal e Interpol da Polícia Nacional da Colômbia que também deteve os irmãos Manuel Francisco e Rafael Mejía Cuadrado. Durante a ação, foram apreendidos 873 kg de cloridrato de cocaína e cerca de US$ 1 milhão.

Na ordem de prisão, Trevor foi requerido pela autoridade judicial dos Estados Unidos por ter exportado mais quilos de cocaína com intenção e conhecimento de que o ato seria considerado ilegal nos Estados Unidos. Na época, ele negou as acusações e afirmava que apenas comprava calçados na Venezuela para revender na Colômbia. O narcotraficante só foi enviado para Ohio, nos EUA, em março de 2020.

“Se ele for brasileiro nato e se tivesse sido preso no Brasil, ele [Rodrigues] não seria extraditado. Ele só foi extraditado porque efetivamente estava em outro território que não o território da nacionalidade originária dele, que é o Brasil”, disse Gustavo Zortéa da Silva, defensor público federal responsável pelo setor de extradições.

ESQUEMA

De acordo com as investigações da DEA, Rodrigues integrava um grupo criminoso identificado como “Real”. Esse grupo é ligado ao narcotraficante Marcos de Jesus Figueroa, o Marquitos Figueroa, e ao ex-governador de Guajira, na Juan Francisco Gomez Cerchar, o Kiko Gomez. Os dois colombianos são acusados de liderar um grupo de extermínio paramilitar que assassinou, desde os anos de 1990, mais de 130 pessoas do país.

Também são investigados riscos relacionados à consolidação de grandes rotas de droga em Roraima, o que agravaria a crise migratória local, além de problemas originados pela presença intensiva de integrantes do PCC, o Primeiro Comando da Capital.

Carlos Magno Rodrigues, coordenador de Análise de Redes Criminosas Transnacionais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), afirma que o acompanhamento da agência continuou após a prisão de Rodrigues.

“Nós temos análises que indicam que somente na região de Roraima existam, pelo menos, 600 pessoas envolvidas em algum tipo de crime, como tráfico de drogas, contrabando de imigrantes, contrabando, descaminho”, revelou.

PADRÃO DE VIDA 

Natural de Bonfim, na fronteira de Roraima com a cidade de Lethem, na Guiana, Trevor é casado, tem três filhos e uma casa própria. Além disso, ele é dono de uma empresa denominada “Comercial Trevor Rodrigues” e nunca esteve nos registros da polícia roraimense como suspeito de qualquer crime que fosse.

Filho de pai guianês, Trevor fala inglês fluentemente. Nos registros de viagem, constam diversas saídas do Brasil com destino a países como Estados Unidos, Portugal e Holanda. Há ainda registros de travessia da fronteira entre Tabatinga (AM) e a cidade de Letícia, na Colômbia.

Um acompanhamento feito por agentes da Abin demonstrou que Trevor afirmava aos conhecidos que teria sido contratado por um estrangeiro, de origem árabe ou indiana, proprietário de uma empresa na área de pesca, o que justificaria seus longos períodos fora do Brasil.

De acordo com o juiz Esdras Silva Pinto, titular da Vara Única de Bonfim, não há surpresas sobre o envolvimento de uma pessoa do munícipio envolvido em crimes internacionais, tendo em vista que a cidade fica localizada em área de fronteira.

“Bonfim, que fica na fronteira com a Guiana Inglesa, é o ponto que entra droga e arma, e onde sai veículos roubados em Roraima e transportados para Guiana e, a partir de lá, haver um desmanche. Não me assusta populares dessa região serem arregimentados pelo crime para facilitar esse tipo de prática de crime internacional”, afirmou.