Um grupo de garimpeiros encapuzados atirou contra casas de indígenas da Comunidade Korekorema, Terra Yanomami de Roraima, na noite de quarta-feira (16). Esse é o oitavo ataque registrado na região.
O caso foi informado em ofício nessa quinta-feira (17) pela Hutukara Associação Yanomami à Fundação Nacional do Índio (Funai), Polícia Federal (PF), Exército Brasileiro e Ministério Público Federal (MPF).
O vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, explica que os moradores se esconderam na floresta após o tiroteio. Não há registro de feridos.
Para o líder indígena, o episódio se soma à “infindável sequência” de ataques armados sofridos desde o início do ano e, junto ao recente ataque à Maikohipe, avalia que a escalada de violência se expande para outras comunidades da região.
“Enquanto a circulação de garimpeiros armados permanece intensa e desobstruída, as comunidades Yanomami e Ye’kuana seguem sob permanente ameaça. Reiteramos com urgência que o Poder Público atue de forma sistêmica e permanente para conter a atividade do garimpo ilegal, inclusive por meio do estreitamento de sua logística por via fluvial, aérea e terrestre, e assim garantir a segurança nas comunidades”, cobrou.
Korekorema teve a Base de Proteção Etnoambiental (BAPE) desativada pelo Governo Federal por falta de verbas. O objetivo da base é proteger os indígenas, e evitar atividades ilegais, como garimpo e desmatamento. No ano passado, a Justiça Federal mandou a Funai reativar o local, mas, até o momento, isso não ocorreu.
Na segunda-feira (14), o ministro da Justiça, Anderson Gustavo Torres, autorizou o envio da Força Nacional para atuar na região. Os agentes serão enviados após uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
A decisão do ministro Luís Roberto Barroso criticou a falta de transparência do Governo Federal e determinou que as equipes devem ficar na Terra Yanomami até a retirada total dos invasores.
CONFLITOS
Conforme a Hutukara, o primeiro ataque aos indígenas ocorreu no dia 10 de maio, quando sete embarcações com garimpeiros armados atacaram a comunidade Palimiú. Já o segundo foi registrado no dia 16 de maio, quando bombas foram lançadas contra os Yanomami.
A comunidade Maikohipi, próximo a Palimiú, também foi atacada no dia 5 de junho com bombas de gás lacrimogêneo. Três dias depois, os garimpeiros retornaram à comunidade e atiraram contra Yanomami que retornavam de uma caçada. Os indígenas fugiram pelo rio e não houve feridos.
No dia 11 de junho, garimpeiros armados mataram um cachorro a tiros e ameaçaram duas vezes, no mesmo dia, indígenas de Maikohipi. O último ataque foi registrado no dia 13 deste mês. Na ocasião, garimpeiros em três embarcações atiraram contra Palimiú.
Conforme a Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), foram enviados 13 ofícios entre abril de 2020 e maio de 2021 sobre a expansão do garimpo ilegal. Estima-se que mais de 20 mil invasores explorem ilegalmente a região em busca de ouro.
Os documentos destacam que a presença dos garimpeiros ameaça a segurança dos indígenas e propaga casos de coronavírus. Roraima tinha 6.094 casos de Covid-19 entre os povos indígenas até 1º de junho, segundo dados da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). O número de morte está em 143.