Em um ano, Hutukara alertou 13 vezes sobre a expansão do garimpo ilegal – Divulgação/PF

 

A comunidade Maikohipi, na Terra Indígena Yanomami, foi atacada por garimpeiros. Um ofício sobre o episódio foi enviado nessa segunda-feira (7) pela Hutukara Associação Yanomami à Fundação Nacional do Índio (Funai), Polícia Federal (PF), Exército Brasileiro e Ministério Público Federal (MPF).

O documento, ao qual o Roraima em Tempo teve acesso, narra que bombas foram lançadas contra os indígenas “que soltavam gás e faziam arder os olhos”. Os garimpeiros chegaram ao local em quatro embarcações na madrugada do dia 5 de junho.

“O relato dos Yanomami protesta, mais uma vez, contra a situação de insegurança vivida pelos indígenas em razão da presença garimpeira ilegal no interior da Terra Indígena Yanomami, apesar de todos os avisos”, critica a Hutukara.

Sob ataque, os indígenas correram para a mata antes que os garimpeiros entrassem na comunidade. Não há informações sobre feridos.

“Insistimos para que continuem atuando para impedir o avanço da atividade ilegal e a consequente espiral de violência, para garantir a segurança às comunidades indígenas no Palimiú, e na Terra Indígena Yanomami, com a presença constante das forças públicas de segurança e fornecimento contínuo de apoio logístico para operações”, solicita a entidade.

‘PREOCUPAÇÃO’

O vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, relatou à reportagem que recebeu as ligações das lideranças informando do novo ataque. Disse ainda que espera atuação da PF, Exército e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama).

“A situação continua muito tensa, a preocupação é muito grande. As pessoas [garimpeiros] continuam fazendo intimidação dos nossos parentes na região do Palimiú. As lideranças ficam muito preocupadas. Os órgãos públicos não tomaram iniciativas de proteção aos nossos”, criticou.

Dário acrescentou que a situação se mostra “vulnerável”. “As crianças estão tristes, as mulheres preocupadas, e os guerreiros não podem caçar para conseguir alimentos para as famílias”.

CONFLITOS

Garimpeiros atiraram contra indígenas no dia 10 de maio – Foto: Arquivo pessoal/Júnior Hekurari

Desde maio a Terra Yanomami registra intensos conflitos armados entre garimpeiros e indígenas. No dia 10 do mês passado, garimpeiros atiraram contra outra comunidade, a de Palimiú, que revidaram e feriram quatro invasores.

No dia 16 de maio, os garimpeiros voltaram a atacar a mesma localidade e lançaram bombas. Os Yanomami sentiram os mesmos efeitos narrados no novo ofício. À época, a Hutukara cobrou envio de força policial para a região.

O Supremo Tribunal Federal (STF) acatou pedido de 17 entidades e determinou que fossem enviadas tropas de segurança para a Terra Yanomami e permanecessem o tempo necessário para a expulsão completa dos invasores. Contudo, os indígenas alegam que os agentes ficaram por apenas algumas horas e foram embora.

Já no dia 31 de maio, garimpeiros atacaram a Estação Ecológica de Maracá e roubaram materiais utilizados na exploração ilegal, que tinham sido apreendidos em uma fiscalização. As entidades repudiaram o caso e cobraram ações de segurança.

GENOCÍDIO

A Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)  alertou o STF sobre o risco de genocídio nas reservas indígenas, tendo em vista a presença de cerca de 20 mil invasores, que exploram ilegalmente o ouro.

No fim de maio, a Hutukara divulgou imagens inéditas do avanço do garimpo e denominou a reserva como a nova “Serra Pelada” em alusão à região no Pará que teve a fauna e flora dizimada pela maior exploração de garimpo na década de 1980.

Em março de 2021, análises de imagens de satélite indicaram um total de 2.430 hectares destruídos pelo garimpo na Terra Yanomami, o que equivale a 24,3 milhões de metros quadrados. De abril de 2020 a maio de 2021, a Hutukara enviou 13 ofícios sobre a expansão do garimpo ilegal. 

Outra preocupação é com o coronavírus. A presença de garimpeiros, segundo as organizações, aumentou o número de casos.

Dados da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) revelam que, até 1º de junho, foram confirmados 6.094 casos da Covid-19, com 143 mortes, entre oito etnias: Macuxi, Taurepang, Wai Wai, Wapichana, Yanomami, Ye’kwana, Warao, e Pemón, sendo as duas últimas da Venezuela.

CITADOS

Roraima em Tempo entrou em contato com a PF, MPF e Funai e aguarda retorno.

Fonte: Roraima em Tempo